04 junho 2009

A hora da prevenção e a cultura do brasileiro

No hospital, um grupo de amigos se gabava de nunca comer salada. Nunca. Na sala de soro, uma mulher se gabava das doenças que já enfrentara. O que será que leva uma pessoa a celebrar a falta de salubridade?

As operadoras de planos de saúde, instadas pelas regras de Qualificação em Saúde Suplementar, passaram a focar a prevenção de doenças. Assim como os crônicos. Parte das operadoras, entretanto, de olho no resultado de marketing da medida, fez somente o mínimo. Para dizer que fez. E os resultados são pífios, pois pífios são os números de pessoas atendidas.

Mas parte das operadoras enxerga na medida o caminho do setor. Com restrições para aumentar a receita, o negócio é diminuir a sinistralidade. Medidas básicas, como automação e aperfeiçoamento de processos representaram o primeiro passo. Na segunda perna, aprenderam a ler seus próprios dados, o que as levou a negociar melhor com a rede credenciada. Agora, um misto de gerenciamento de casos e prevenção primária toma a mente dos administradores de planos de saúde: a resposta para a desejada diminuição da sinistralidade é manter a saúde da população assistida.

A prevenção, ao mesmo tempo em que diminui o gasto das operadoras com despesas médico-assistenciais, oferece ao beneficiário de planos de saúde um incremento na qualidade de vida. Os programas de prevenção, portanto, têm alta probabilidade de aceitação por parte dos beneficiários, certo?

Errado. Ainda há, da parte do público, uma certa acomodação em frente aos fatores de risco, como o comportamento dos jovens citado no início deste artigo. Ainda há a percepção de que “coisas ruins acontecem com outras pessoas, não comigo”. O tabagismo, sedentarismo, hábitos alimentares, nunca são fator de risco para entrevistados. Ou, quando são, não têm o poder de gerar mudanças de comportamento.

Segundo a ANS:

O controle desses e de outros riscos poderia evitar pelo menos 80% de todas as doenças do coração, de derrames e de diabetes mellitus tipo 2. Só o controle da hipertensão arterial sistêmica reduziria em 35 a 40% a incidência de Acidente Vascular Cerebral, 20 a 25% de Infarto Agudo do Miocárdio e mais de 50% de Insuficiência Cardíaca Congestiva. Os cânceres também poderiam ser prevenidos em 40% ou mais.

(Em Panorama das ações de de Promoção da Saúde  Prevenção de Riscos e Doenças no Setor Suplementar de Saúde)

O quadro abaixo, extraído do mesmo compêndio, mostra as causas de morte no Brasil:

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O desafio é incutir nas operadoras a necessidade de ações mais efetivas e abrangentes no que tange a prevenção e acompanhamento de crônicos e indivíduos saudáveis. Se nos casos de doentes crônicos os programas de atenção significam retorno imediato (redução de custos), no caso de indivíduos sadios, pertencentes ou não a grupos de risco, significa investimento, que pode ser facilmente entendido contabilmente como despesa. Será (ou poderá ser) postergada, portanto, até que sua efetivação se seja justificável (contabilmente, em contabilidade míope e de curto prazo). Já no caso do indivíduo, este precisa se conscientizar de que saúde não é o atendimento médico, que é o oposto disso.

A saúde depende de diversos fatores, mas principalmente de hábitos pessoais focados. O indivíduo sedentário, tabagista e obeso, por exemplo, que não se ocupe em eliminar esses componentes (todos eles decorrentes de hábitos pessoais), está se candidatando a várias doenças, algumas das quais fulminantes. Não adianta a constituição declarar que “saúde é dever do estado…” e a contratação de um plano de saúde se o indivíduo não afastar de si os fatores de risco. Mas ainda há o aspecto cultural por enfrentar. Ser saudável precisa estar na moda…

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