23 fevereiro 2010

Tecnologia da informação na saúde suplementar

http://www.sxc.hu/pic/m/a/ar/artm/1254879_global_solution.jpg Neste artigo, a Comunidade de Saúde em Rede nos insta a dizer o que achamos sobre a utilização de tecnologia da informação na saúde e seus resultados na prevenção de doenças. A história mostra que a informação está obrigando, na verdade, a seguirmos esse caminho.

Nos hospitais, apesar do estado financeiro lastimável da grande maioria, ou por causa dele, a informatização foi obrigatória. Não por lei, mas por necessidade de negócio: o hospital cobrava mal, pois não tinha controle efetivo sobre insumos,especialmente materiais e medicamentos. Não tinha controle sobre admissão e alta de pacientes, e não tinha controle sobre as regras do plano de saúde do paciente. A informatização foi a solução, e iniciou-se como mera medida administrativa, ou seja, gerenciando os dados básicos do paciente e de sua conta hospitalar. Na esteira, outros processos se impuseram, como um controle maior sobre a parte assistencial daquele paciente. E as necessidades foram crescendo tanto, voltando-se para o tratamento e para as condições do paciente, que hoje não se concebe um atendimento médico hospitalar sem um mínimo de informatização. Imagine o controle não informatizado de questões como interação medicamentosa, ou medicamento-alimento. Ou mesmo a decisão sobre alimentação e medicação sem levar em conta as alergias do paciente, num exemplo reducionista.

A informatização, que nasceu básica, já chega aos smartphones. Já há aplicativos que avisam os médicos sobre internações (e hipóteses diagnósticas) de seus pacientes, permitindo-lhes interagir (de novo: via smartphone) com esse processo.

Nas operadoras de planos de saúde, o mesmo fenômeno aconteceu. inicialmente automatizar processos de faturamento e cobrança, logo os sistemas se tornaram os meios principais de controle dos eventos. De acordo com o contrato, cobertura, rede, sexo, idade, por exemplo, são autorizadas ou não as guias de realização de procedimentos, controle impossível de ser feito corretamente de forma manual. Com o esgotamento das ações de regulação nas operadoras (cobrança, pagamentos, autorizações e informações obrigatórias já automatizadas), as operadoras perceberam que tinham material suficiente para começar a utilizar melhor as informações de que dispunha. Exemplo disso são as informações cruzadas sobre doenças e o CBO – o Cadastro Brasileiro de Ocupações. A mesma coisa com o ramo de atividade da empresa. A análise dessas informações permitiu que se conhecesse o perfil de custos de determinadas profissões ou áreas de atuação. Claro que o objetivo era adequar a cobrança do prêmio/mensalidade aos custos efetivos. Mas o mercado é inexorável, e nem todas conseguiram essa adequação.

Neste ponto, hospitais e operadoras de planos de saúde se aproximam na utilização da tecnologia, pois a informações que hoje é o tesouro para todos é a tendência. Quando as informações, fica fácil dizer quem é o doente crônico (leves, moderados ou graves), quem é saudável e quem tem riscos. A tendência desses grupos é definida pela informação amealhada, e hospitais e operadoras podem se beneficiar disso, beneficiando seus paciente/beneficiários ao mesmo tempo. Somente o registro detalhado das condições pessoas (hábitos e antecedentes, inclusive histórico familiar) pode, cruzados a outros dados, gerar informações hábeis para ações preventivas.

É de se registrar que não há outro caminho, a partir do momento em que temos a informação, que não o da prevenção. Sabendo-se que o indivíduo tem tendência genética, histórico pessoal e familiar que o qualifiquem como potencial risco de manifestação de uma doença, seria irresponsabilidade não evitá-la.

Portanto, diria que a tecnologia da informação na saúde, mais que necessária, é a única ferramenta que viabiliza a prevenção. Esgotados as necessidades primárias de automação (primeira onda de informatização), a transformação da informação armazenada vem se aprimorando de tal forma que é a hora de gerenciar a saúde de fato, em contraponto à abordagem de debelar a doença.

A barreira é que os benefícios financeiros da prevenção ainda são intangíveis, o que não permite apresentá-los como argumento à informatização. Por outro lado, a ANS já autorizou as operadoras de planos de saúde a contabilizarem suas despesas com programas de prevenção como ativos, reconhecendo que há benefícios futuros com eles. Mas de concreto, infelizmente, ainda não há nada que garanta o financiamento das etapas da cadeia até se chegar ao ideal de prevenção. São heróicas, portanto, as empresas que se aventuram nessa seara.

22 fevereiro 2010

ANS – Canais de Atendimento

Depois deste post, por coincidência, a ANS mudou seu site. Agora há um box, chamado “Canais de Atendimento”, com um link direto e claro para o “Fale Conosco”.

Incumbida de gerir uma das áreas mais sensíveis de qualquer país, a ANS tem mostrado que não se confunde com outras agências governamentais, impotentes pela própria omissão. A ANS é a mais ativa das agências, e uma das que mais ajustam procedimentos no interesse dos beneficiários de planos de saúde. Claro que nem nem todas as observações são loas, mas a ANS é, indiscutivelmente, um destaque.

19 fevereiro 2010

Prevenção – Os resultados de uma atitude positiva

  Em artigo publicado no European Heart Journal, sob o título “Don’t worry, be happy: positive affect and reduced 10-year incident coronary heart disease: The Canadian Nova Scotia Health Survey", Karina W. Davidson*, Elizabeth Mostofsky, e William Whang apresentam resultados inéditos de uma pesquisa que liga emoções positivas a melhores resultados na prevenção de doenças cardíacas (link aqui).

A atitude positiva, já enormemente enaltecida principalmente nos livros de autoajuda, ganha força científica com a publicação, que ressalta que mesmo os felizes apresentam seus maus momentos, é claro, mas destaca que estes não anulam os resultados positivos de quem mantém seu estado geral de felicidade.

Dessa forma, inicia-se a comprovação de que não bastam meios, circunstâncias e recursos materiais para manter a saúde. Além desses componentes, há o pessoal, o componente subjetivo: ajuda se a pessoa se mantiver com astral positivo.

É um alento, principalmente em um pais como o Brasil, em que para a população tudo está bom e bem. à parte suas dificuldades naturais de acesso aos hospitais e medicamentos, ao menos essa característica da população (os que a têm, claro), protege-a (minimamente, que seja) contra os males cardíacos. Imagine se assim não fosse!

18 fevereiro 2010

Reclamações na ANS

A ANS tem disponível para consultas o Índice de Reclamações, apurado de acordo com os registros realizados pelo seu telefone 0800-701-9656 (note que o final é o número de lei que regula os planos de saúde e suas operadoras no Brasil) e através do site, no link “Fale Conosco”. É fonte de informações para quem quer escolher seu plano de saúde e quer consultar antes as informações disponíveis sobre ele. Também é uma referência para a atuação da ANS, ao mesmo tempo em que pode oferecer ao beneficiário um atalho para a resolução de seu problema.

Embora seja um link genérico (Fale com a ANS), o cadastro é completo o suficiente para que o problema seja bem identificado e conduzido.

Faço aqui o registro por que um amigo, numa conversa, reclamou da dificuldade em localizar o local para o registro de reclamações. Concordo com ele que poderia haver um link direto de reclamações. Mas o link existente é bem amigável e serve ao seu propósito.

Comparando com o site de outras agências, contato que há as duas abordagens: o “Fale Conosco” genérico, com espeço para registro de denúncias e reclamações, e há os links para “Reclamações e Denúncias”. Como o assunto não é objeto de padronização, basta ao consumidor um pouco de paciência para explorar os sites e localizar os espaços adequados para o serviço requerido.

Entretanto, quando nos deparamos com a proliferação da oferta de informações e serviços pela internet, fica a sensação de que ainda há muito que se evoluir na forma em como se publicam esses serviços. Acredito que a dificuldade que meu amigo teve, mais a minha própria dificuldade, eu que não nenhum neófito, deva se multiplicar para pessoas com menos familiaridade com a internet.

De qualquer forma, torno a registrar que a ANS é, de longa, a agência mais ativa  do Brasil, e que sua atuação, á parte as reclamações de praxe, oferece maior sensação de segurança ao consumidor.

09 fevereiro 2010

Telemedicina e doentes crônicos

As doenças crônicas são uma preocupação comum a todas famílias, praticamente,e representam custos altíssimos para operadoras de planos de saúde e ao SUS. Como consequência, os próprios valores dos planos de saúde têm impacto para cima, o mesmo acontecendo com os custos da saúde pública.

Os cuidados exigidos para os doentes crônicos nem sempre estão ao seu alcance. Podem ser pessoas com dificuldades de locomoção ou pessoas que vivem sós. Fato é que, assim como nas ocorrências das manifestações dos males, os pacientes precisam de atenção contínua.

Há inúmeros equipamentos no mercado que já fazem integração, via internet ou discagem direta ao centro de cuidados, dos dados do paciente com as bases de dados de instituições que cuidam deles. Monitores de pressão, de glicose e de peso, por exemplo, já são uma realidade, e a integração já está se concretizando.

Uma peça de ficção no passado, a reação imediata dos profissionais de saúde já é realidade para uma parcela da população. Se os dados obtidos pelos equipamentos estiverem fora dos padrões normais, o sistema de informações já avisa os responsáveis e já aciona medidas, adequada a cada caso. E a atenção exigida é disponibilizada no menor tempo possível para os pacientes.

O bem estar do paciente e o incremento de sua qualidade de vida são os maiores resultados desse tipo de abordagem. Mas há outros, igualmente importantes, de impacto social e pessoa muito poderosos, que não devem ser deixados de lado. Como tais, a diminuição na hospitalização, com a consequente diminuição dos custos das operadoras de planos de saúde e da rede pública de saúde. Ainda é cedo, nesta fase do processo, para concretizar-se o impacto nas mensalidades dos planos de saúde, pois as operadoras ainda se refazem do choque do marco legal no Brasil. Despreparadas para enfrentar a inflação médica, o envelhecimento da população e a maior frequência nos procedimentos, ainda temos um grande caminho a percorrer nessa seara.

Mas a prevenção é, cada vez mais, sob o ponto de vista social e pessoal, a melhor abordagem. A incidência de mortes e/ou sequelas de prevenção simples diminuiria, pode-se dizer, drasticamente, beneficiando a todos na cadeia da saúde.

O vídeo abaixo (em inglês) mostra a experiência de uma empresa americana no telemonitoramento. Embora seus métodos de coleta no vídeo sejam ainda muito reativos, dá um exemplo dos resultados que o controle pode trazer a doentes crônicos.

 

 

08 fevereiro 2010

Unimed Duque de Caxias

A Unimed Rio vai oferecer contratos aos beneficiários da Unimed Duque de Caxias. A decisão está no Diário Oficial da União de hoje (08/02) e foi noticiada pelo site da ANS (aqui).

Há as condições estabelecidas pela agência, tanto para adesão dos beneficiários como para a Unimed Rio.

De novo, apresenta-se a questão da efetividade desse tipo de ação da ANS. A Unimed Rio oferecerá novos contratos aos beneficiários, que aceitam se quiserem. Exceto pelas regras de proteção habituais, o consumidor está, novamente, à mercê do mercado. Digo isto porque ãs ações da ANS não garantem continuidade, ou seja, não promove a alienação total e incondicional da carteira. Assim fosse, os beneficiários seriam transferidos automaticamente para a operadora, ficando de fora somente aqueles que assim se manifestassem. Da forma que vem agindo, a ANS obriga o consumidor a declarar sua adesão, tornando o processo mais penoso e oneroso (no sentido do esforço) para o beneficiário. Foi assim  no caso da Avimed, como venho destacando desde o ocorrido, e será assim, ao que tudo indica, no caso da Unimed Paulistana, caso esta não consiga se fortalecer.

As operadoras de planos de saúde fazem com que a circulação nos seus recintos seja uma medida reguladora, uma vez que obrigam a obtenção de guia para determinados procediementos (internações e procedimentos de alto custo, na maioria dos casos). Só vai obtê-lo quem realmente precisa dele, pois é necessário deslocar-se até a operadora, a despeito de toda tecnologia existente.

Ao obrigar o consumidor que pagou sua mensalidade a apresentar o comprovante ou o contrato de adesão, a ANS cria dificuldades desnecessárias aos beneficiários que já se deparam com uma grande incerteza de atendimento. É medida burocrática, e não atende aos interesses do conusmidor, se é que atende aos interesses de alguém. Parece que é uma daquelas medidas tecnocráticas, estabelecidas por quem não conhece as dificuldades do dia-a-dia.

Ademais, com tantos relatórios de acompanhamento (o SIB, por exemplo), a ANS tem todas condições, ao menos tecnológica, de ter em suas bases de dados informações bem fidedignas sobre os beneficiários, seus contratos e suas coberturas. Se não tem, é porque interesse ainda não houve.

A ansiedade agora é para ver que destino terão os beneficiários da Unimed Paulista. Propagados como mais d um milhão, os beneficiários devem estar apreeensivos com mais esta liquidação de operadora. É preciso lembrar que as Unimed, embora sejam independentes entre si, formam o sistema cooperativo mais forte do Brasil, e um dos mais fortes do mundo. Reconhecida sua força, bastaria impor regras de assunção das carteiras como as da Unimed Duque de Caxias. O cooperativismo é tão forte para as Unimed que elas têm duas opções para atuação em todo o território Nacional. A Central Nacional Unimed e a Seguradora Unimed. Com tanta força para reagir, avalio que ao mundo Unimed não interessa essa contrapropaganda da liquidação de qualquer delas.

Assim, quem ganha com a medida? Não o consumidor, não o sistema Unimed. Quem, então?

Só pode ser o respeito à regra. Ao vencedor…

03 fevereiro 2010

Mortalidade de beneficiários de planos de saúde e usuários SUS

http://www.ans.gov.br/portalv4/images/img_logo_3.gif A ANS divulgou em seu site resultado da comparação entre a mortalidade de beneficiários de planos de saúde e dos usuários do SUS. A conclusão é que o perfil de mortalidade é semelhante para ambos os perfis. O que isto quer dizer? Absolutamente nada de novo.

No Brasil, o direito universal à saúde, garantido pela consituição, é uma quimera. Todos têm direito, mas isso não garante atendimento. Filas e mais filas do SUS espantaram a população que pode pagar para planos de saúde. Estes, em essência, garantem o atendimento na manifestação das doenças, papel que seria do SUS. E é só.

A abordagem de melhoria do estado de saúde, não necessariamente de pessoas já adoecidas, é praticamente inexistente. Planos de saúd ainda não se ocupam disso e não se ocuparão se não houver est;imulos e financiamentos. É uma mudança forte de paradigma, e nem todos estão preparados para ela. Inclusive a população.

No SUS, como no plano de saúde, a procura é ativada pelo mal estar, pela doença. COmo prevenção não há, e acompanhamento idem, é de se esperar que os perfis de mortalidade sejam semelhantes.

A propósito, essa compra de assistência médica pela população, fugindo da ineficiência da rede pública, desobriga esta aos atendimentos mais frequentes. O que significa menor custo para os cofres públicos. Na matemática, o cidadão, pelos impostos se habilita à rede pública, e pelo pagamento direto se habilita à assistência médica suplementar. Paga duas vezes, certo?

Pois o famoso ressarcimento ao SUS devido pelas operadoras de planos de saúde acirra essa condição quase surreal. Além de não ter a despesa de vários dos atendimentos do cidadão, o SUS ainda cobra das operadoras os atendimentos que realiza daqueles cobertos por planos. Na pior das interpretações, esse valor não deveria ser ressarcido para o beneficiário? Parece-me que sim, já que é ele que paga duplamente pelo serviço.

As deficiências e ineficiências de gestão pública estão cobertas pela fumaça da demonização das operadoras de planos de saúde. Enquanto estas estiverem na berlinda, ninguém apontará o dedo para a real causa do problema, que é a politicagem que impera na gestão das verbas.

Como dizia Macunaíma, muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são.