23 março 2010

A vitória de Obama e o modelo de saúde

http://www.istockphoto.com/file_thumbview_approve/2737249/2/istockphoto_2737249-dollars.jpg Não há modelo de saúde na vitória de Obama. Há somente um modelo de financiamento. Definiu-se quem paga a conta, basicamente. A questão das doenças preexistentes e da obrigatoriedade de todo cidadão ter seu plano de saúde só se encaixam na lógica financeira.

O Brasil tem dois anos como carência para doenças preexistentes. O modelo é bom para as operadoras, inicialmente, mais se volta contra elas na medida em que essas preexistências não são devidamente tratadas (prevenção). O modelo que se deseja no Brasil (e a ANS tem agido nesse sentido) é o da prevenção, em que a manutenção da saúde é mais importante que pagar ou não pagar o tratamento.

Ao longo do tempo, entretanto, é que essa mudança aconteceu. Da visão puramente financeira, antes da lei, a saúde suplementar no Brasil tornou-se uma extensão do SUS, em termos de cobertura, com severas restrições financeiras para as operadoras, no que tange aos reajustes e aos procedimentos cobertos. Nesta última fase, pressionados por um lado pelas normas e do outro pela concorrência predatória (e fagocitária, já que as grandes empresas estão absorvendo as menores), as operadoras já adotam o horizonte da prevenção como única saída possível para o setor. Mas, como é a tônica do setor, fresta saber quem financia a mudança do paradigma assistencial para o paradigma da prevenção. Ao final, todas as mudanças têm motivações financeiras.

É o que os Estados Unidos terão de enfrentar. O modelo aprovado na batalha da saúde é um modelo financeiro. Basta ver que alguns democratas só apoiaram o projeto ao saber da economia projetada nos dez próximos anos, em vez do aumento de despesas (embora o custo seja alto).

Mas o grande problema americano, terra do fast food, em que os problemas de sobrepeso e obesidade atingem a mais de 50% da população, é o comportamento individual de seus cidadãos. Os hábitos pessoais, não atingidos pela reforma, exigirão atenção maior, em futuro próximo, às questões preventivas. Afinal, os custos discutidos são sempre de assistência médica, não de medidas de promoção da saúde e prevenção de doenças.

Uderzo o Goscini já brincavam com a Obesidade nos tempos de César, quando nos apresentavam os senadores obesos e sedentários, como resultado do processo de enriquecimento, e é o que acontece com o império da atualidade: doenças proporcionadas pelos hábitos pessoais.

Que foi uma tremenda vitória, não se discute. Que terá que ser sucedida por uma onde de conscientização, esta será uma discussão acadêmica. A população continua morrendo por falta de visão de futuro.

E no Brasil?

22 março 2010

Reclamações sobre planos de saúde

Está no site da ANS demonstrativo das reclamações de beneficiários com relação aos planos de saúde.

Em 2009, das demandas à ANS, subiu de 9% para 12% o quantidade de reclamações perante as demais solicitações do Disque-ANS.

O texto apresenta, também, totalizações das principais entidades de defesa do consumidor no Brasil.

Pelos números do IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor), a saúde é a principal reclamação da população. Já em relação aos Procons/Ministério da Justiça, a saúde, em 2007, 2008 e 2009 é a quinta causa de reclamações.

Seria interessante classificar essas reclamações, para podermos ter uma dimensão de sua origem. Ou seja, sabendo-se que tipo de reclamação é mais frequente, poder-se-ia adotar ações para que os problemas fossem sanados.

Mas a ANS, de sua própria base de dados, já tem elementos suficientes para iniciar algumas dessas ações. Aliás, a bem da verdade, acredito que essas ações já se iniciaram, pois a ANS não é agência inerte, ao contrário. Ajudaria saber detalhes sobre as reclamações para que os profissionais da área, em trabalhos de consultoria e avaliação, pudessem ajudar operadoras a diminuir e mesmo evitar problemas já diagnosticados.

18 março 2010

O Rap da prevenção

Comunicação é questão de adequação de linguagem.

Neste “Rap da Prevenção”, uma mensagem dirigida aos jovens sobre AIDS e outras doenças Sexualmente Transmissíveis.

Ótima iniciativa.

12 março 2010

Informação, conscientização e ação

O Paciente Informado, como se convencionou chamar aqueles que pesquisam seus sintomas no Dr. Google e chegam ao consultório com um diagnóstico, é um fenômeno da disseminação do conhecimento.

Na verdade, o Paciente Informado chega ao consultório em condições de aprofundar melhor sua conversa com o médico, sendo esta o melhor resultado da oferta de informações hoje existente. Há aqueles que chegam, realmente, com uma doença autodiagnosticada, certa ou não. E há aqueles que, por causa do conhecimento, cogitam mesmo em eliminar o médico do processo.

Mas não há dúvida de que a informação é valiosa, mormente em questões de saúde. Seria ainda mais se fosse utilizada para prevenção, não somente para identificar doenças já estabelecidas. Mas já é um começo.

Como justificar, por exemplo, aquele cidadão do Super size me - A Dieta do palhaço (Morgan Spurlock, 2004), que ESCOLHE alimentar-se somente de refeições de fast food para depois relatar os problemas daí decorrentes? Ele tinha a informação à mão, e tinha profissionais que poderiam apoiá-lo na análise. Mas tomou uma decisão, e foi em frente. Os resultados à sua saúde não foram bons, como bem sabe quem assistiu ao documentário. Mas o que se poderia esperar?

Espera-se que a informação tenha algum resultado prático nas decisões e escolhas dos cidadãos. Que, sabendo não ser muito saudável a comida de fast food, que as pessoas recorram a alimentos mais saudáveis. Assim como espera-se que as informações sobre o tabagismo estimulem pessoas a abandonarem o vício (ou a evitá-lo).

Como mudar a cultura é demorado e trabalhoso, às vezes recorre-se ao choque. O cigarro, com suas imagens fortes, é um exemplo, trazendo para a realizada uma atitude romanceada por gerações e gerações de pessoas.

O vídeo abaixo, focado no câncer de mama, é um exemplo disso. Com fino humor, choca ao escancarar uma realidade possível e presente. Portanto, imperdível.

 

11 março 2010

Sobre o tempo limite para consultas para beneficiários de planos de saúde

http://www.istockphoto.com/file_thumbview_approve/4703660/2/istockphoto_4703660-symbols-of-time.jpg Como sempre, o tema polêmico merece comentários de todas as partes. Nem todos, entretanto, com análise mais profunda sobre o assunto.

A ANS, a agência reguladora mais ativa do Brasil, estuda impor limites para o tempo de atendimento nas consultas, por exemplo, para os beneficiários de operadoras de planos de saúde. Tenho sido um crítico deste problema (aqui, aqui e aqui), e acho correta a medida em estudo.

Por outro lado, algumas das críticas colocam os motivos da demora no atendimento na diminuição da rede credenciada das operadoras, como medida de contenção de gastos (das  operadoras), o que não é bem verdade. Segundo a fonte dessas críticas, o beneficiário de plano de saúde que não consegue atendimento rápido vai à rede pública buscar esse atendimento. Não, não vai. Ele vai é ao serviço de urgência/emergência que atende ao seu plano. No caso, a consulta nessa modalidade é mais cara, e é um problema a ser EVITADO pelas operadoras.

Ninguém que paga um plano de saúde quer ser aventurar pelo atendimento da rede pública. Por mais movimentado que seja o local de atendimento escolhido, a grande maioria escolhe o atendimento pelo qual pagou (diretamente). Assim, a demora nos atendimentos têm como vítimas:

  • A operadora, na medida em que não necessariamente consegue repassar esse custo adicional aos contratos sob sua responsabilidade, ainda mais se forem contratos de pessoas físicas. Há, nas operadoras, pessoas com incumbência de “conscientizar” usuários, mostrando a eles o quão caras são essas consultas em urgência/emergência;
  • O contratante (pessoa jurídica), na medida em que aumentar a sinistralidade de seu contrato, com majoração assegurada na próxima negociação. Por este motivo, contratantes coletivos aceitam os representantes das operadoras que “ensinem” aos seus funcionários (os beneficiários dos planos) como utilizar corretamente o plano; e
  • Os beneficiários, que são atendidos por médicos com os quais não criam vínculo, não estabelecem história. Que não terão, portanto condições de acompanhamento pleno da sua saúde. O próprio médico, quando atende em consultório, entra no problema das datas disponíveis para consultas, alimentando o círculo vicioso.

O problema é estrutural. Aos poucos, o atendimento dos planos de saúde equaliza-se ao do SUS. As agendas dos médicos estão cada vez mais cheias, e não se pode dizer que eles não querem atender. Mas a quantidade de médicos disponíveis precisa ser avaliada, pois parece ser esse o cerne do problema. E, se for, um problema de difícil solução, pois a formação demora. Poucos de nós conhecem médicos que não atendem a “convênios”, a grande maioria atende a vários ao mesmo tempo, exceção feita aos médicos cooperados, que muitas vezes atendem somente aos beneficiários de UNIMED (sem considerar o problema da unimilitância, pois as próprias cooperativas são atingidas pelo problema da demora na consulta).

Mesmo se a ANS obrigasse a todos os médicos a atenderem a todos os convênios, o problema não seria de fácil resolução.

Somente planejamento e coerência parecem ser capazes de resolver esse problema.

05 março 2010

A bomba relógio de Obama

http://www.istockphoto.com/file_thumbview_approve/6652953/2/istockphoto_6652953-bald-eagle-american-flag.jpg Obama está pressionando para que a reforma seja votada – e aprovada – logo. Tem pressa, e tem razões para ter pressa. A parcela de americanos excluída dos planos de saúde é tal que a solução se impõe como emergencial.

Mas seu plano de reforma baseia-se em critério exclusivamente de financiamento do atendimento. Não é errado basear-se em critério econômico para realizar reforma desse vulto. Mas centrar essa reforma somente na questão de financiamento do atendimento curativo pode vir a representar uma grande bomba relógio no futuro.

Senão, vejamos: o Brasil, através da Lei 9.656, estabeleceu obrigações para as operadoras e vantagens para a parte hipossuficiente, os beneficiários. Estabeleceu limites de reajuste, acabou com limites de cobertura. Ampliou o leque de ofertas, reduziu o saco de maldades. Mas levou pouco e dez anos para perceber que o modelo adotado precisa de revisão. Ao focar no atendimento curativo, esqueceu-se de colocar no cálculo atuarial o envelhecimento da população, na inflação médica, e na cultura do povo. Ou seja, esqueceu-se que o melhor remédio é a prevenção. E a ANS está agindo justamente nesse sentido, para que as operadoras não enfrentem graves problemas de sinistralidade nos próximos anos.

No plano americano, há um dispositivo que proíbe a cobrança de medidas preventivas, como o check-up, por exemplo. Seria prudente? Se os prestadores não puderem cobrar procedimentos de prevenção, a tendência é que não os realizem. No país em que mais da metade da população enfrenta problemas de sobrepeso e obesidade, a medida é discutível. Prevenção é a medida mais veementemente sugeridas por todas as organizações especializadas em saúde, e Obama está a um passo de deixá-la fora do sistema americano.

As consequências, daqui a alguns anos, serão a crescente sinistralidade das operadoras, que tentarão a todo custo repassá-las para os beneficiários (e seus empregadores ), maior quantidade de atendimento na rede que não deve crescer na mesma proporção, maior demanda para profissionais de saúde, etc.

O presidente americano fará melhor negócio se fizer o investimento que está propondo agora, mas reservar uma parte dele para prevenção. O desafio, caso aceita esta tese, é balancear as ações do sistema de saúde para priorizar ações preventivas. Mas dificilmente isto ocorrerá. No Brasil, onde o custo já é um grande problema, ainda não há consenso sobre o assunto. Nos EUA, onde a cobertura é que ditará as regras, a bomba vai se armando.