Como sempre, o tema polêmico merece comentários de todas as partes. Nem todos, entretanto, com análise mais profunda sobre o assunto.
A ANS, a agência reguladora mais ativa do Brasil, estuda impor limites para o tempo de atendimento nas consultas, por exemplo, para os beneficiários de operadoras de planos de saúde. Tenho sido um crítico deste problema (aqui, aqui e aqui), e acho correta a medida em estudo.
Por outro lado, algumas das críticas colocam os motivos da demora no atendimento na diminuição da rede credenciada das operadoras, como medida de contenção de gastos (das operadoras), o que não é bem verdade. Segundo a fonte dessas críticas, o beneficiário de plano de saúde que não consegue atendimento rápido vai à rede pública buscar esse atendimento. Não, não vai. Ele vai é ao serviço de urgência/emergência que atende ao seu plano. No caso, a consulta nessa modalidade é mais cara, e é um problema a ser EVITADO pelas operadoras.
Ninguém que paga um plano de saúde quer ser aventurar pelo atendimento da rede pública. Por mais movimentado que seja o local de atendimento escolhido, a grande maioria escolhe o atendimento pelo qual pagou (diretamente). Assim, a demora nos atendimentos têm como vítimas:
- A operadora, na medida em que não necessariamente consegue repassar esse custo adicional aos contratos sob sua responsabilidade, ainda mais se forem contratos de pessoas físicas. Há, nas operadoras, pessoas com incumbência de “conscientizar” usuários, mostrando a eles o quão caras são essas consultas em urgência/emergência;
- O contratante (pessoa jurídica), na medida em que aumentar a sinistralidade de seu contrato, com majoração assegurada na próxima negociação. Por este motivo, contratantes coletivos aceitam os representantes das operadoras que “ensinem” aos seus funcionários (os beneficiários dos planos) como utilizar corretamente o plano; e
- Os beneficiários, que são atendidos por médicos com os quais não criam vínculo, não estabelecem história. Que não terão, portanto condições de acompanhamento pleno da sua saúde. O próprio médico, quando atende em consultório, entra no problema das datas disponíveis para consultas, alimentando o círculo vicioso.
O problema é estrutural. Aos poucos, o atendimento dos planos de saúde equaliza-se ao do SUS. As agendas dos médicos estão cada vez mais cheias, e não se pode dizer que eles não querem atender. Mas a quantidade de médicos disponíveis precisa ser avaliada, pois parece ser esse o cerne do problema. E, se for, um problema de difícil solução, pois a formação demora. Poucos de nós conhecem médicos que não atendem a “convênios”, a grande maioria atende a vários ao mesmo tempo, exceção feita aos médicos cooperados, que muitas vezes atendem somente aos beneficiários de UNIMED (sem considerar o problema da unimilitância, pois as próprias cooperativas são atingidas pelo problema da demora na consulta).
Mesmo se a ANS obrigasse a todos os médicos a atenderem a todos os convênios, o problema não seria de fácil resolução.
Somente planejamento e coerência parecem ser capazes de resolver esse problema.
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