Obama está pressionando para que a reforma seja votada – e aprovada – logo. Tem pressa, e tem razões para ter pressa. A parcela de americanos excluída dos planos de saúde é tal que a solução se impõe como emergencial.
Mas seu plano de reforma baseia-se em critério exclusivamente de financiamento do atendimento. Não é errado basear-se em critério econômico para realizar reforma desse vulto. Mas centrar essa reforma somente na questão de financiamento do atendimento curativo pode vir a representar uma grande bomba relógio no futuro.
Senão, vejamos: o Brasil, através da Lei 9.656, estabeleceu obrigações para as operadoras e vantagens para a parte hipossuficiente, os beneficiários. Estabeleceu limites de reajuste, acabou com limites de cobertura. Ampliou o leque de ofertas, reduziu o saco de maldades. Mas levou pouco e dez anos para perceber que o modelo adotado precisa de revisão. Ao focar no atendimento curativo, esqueceu-se de colocar no cálculo atuarial o envelhecimento da população, na inflação médica, e na cultura do povo. Ou seja, esqueceu-se que o melhor remédio é a prevenção. E a ANS está agindo justamente nesse sentido, para que as operadoras não enfrentem graves problemas de sinistralidade nos próximos anos.
No plano americano, há um dispositivo que proíbe a cobrança de medidas preventivas, como o check-up, por exemplo. Seria prudente? Se os prestadores não puderem cobrar procedimentos de prevenção, a tendência é que não os realizem. No país em que mais da metade da população enfrenta problemas de sobrepeso e obesidade, a medida é discutível. Prevenção é a medida mais veementemente sugeridas por todas as organizações especializadas em saúde, e Obama está a um passo de deixá-la fora do sistema americano.
As consequências, daqui a alguns anos, serão a crescente sinistralidade das operadoras, que tentarão a todo custo repassá-las para os beneficiários (e seus empregadores ), maior quantidade de atendimento na rede que não deve crescer na mesma proporção, maior demanda para profissionais de saúde, etc.
O presidente americano fará melhor negócio se fizer o investimento que está propondo agora, mas reservar uma parte dele para prevenção. O desafio, caso aceita esta tese, é balancear as ações do sistema de saúde para priorizar ações preventivas. Mas dificilmente isto ocorrerá. No Brasil, onde o custo já é um grande problema, ainda não há consenso sobre o assunto. Nos EUA, onde a cobertura é que ditará as regras, a bomba vai se armando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário