Desde a lei, ficou claro o papel dos diversos atores no cenário da saúde. Mas se o papel é claro, as incertezas continuam rondando o mercado. Ainda há necessidade de muitas discussões para o ajuste fino, mesmo decorridos mais de dez anos da regulamentação. Mas que elas não aconteçam somente entre atores do mesmo papel: hospitais e operadoras precisam sentar e encetar conversações sobre o que anda no horizonte. Igualmente, a ANS precisa ter seu braço estendido para atuar sobre prestadores, ou permanecerá somente focada na operadora.
ANS: as normas provindas da agência reguladora mais ativa do Brasil têm sido acertadas, e, se erro houve, foi mais na cultura brasileira da postergação de datas que nas ações, propriamente ditas. Ultimamente essas postergações têm sido menores, quando existem. Mas é o corpo técnico da ANS que vem dando forma à saúde suplementar no Brasil. Pessoas bem intencionadas e conhecedoras do assunto, têm se esforçado no sentido de trazer ao Brasil as boas práticas mundiais. E, se tem encontrado barreiras, muitas delas se derivam da falta de investimentos nas pontas (operadoras e hospitais). Mas sua atuação, por exemplo TISS e TUSS, é quase uma unanimidade em todo o segmento.
Operadoras: as operadoras são atingidas diretamente pela regulamentação. E fazem, como consequência, que atinja os prestadores, pois a ANS não tem sobre estes poder de ação. Mas as coisas não estão fáceis para as operadoras. De um lado, há um movimento de incorporações e aquisições em andamento. Processos de abertura de capital, idem. E a discussão sobre verticalização. Ser comprado ou comprar uma operadora; abrir ou não o capital, preparando-se para comprar ou ser comprado; ou comprar e/ou manter hospitais próprios de atendimento, são os grandes temas que dominam o dia-a-dia destes players, juntamente com seus processos operacionais: aumento da sinistralidade, reajustes ínfimos perto dos custos de atendimento, clientes em alta rotatividade à procura de melhor preço. Qual é o melhor caminho?
Prestadores de serviços: hospitais, laboratórios, clínicas, consultórios, etc., são os que realmente atendem, e estão na ponta espremidos pelos pacientes e operadoras. Os primeiros exigem qualidade e rapidez. Os segundos exigem autorizar os procedimentos e controlam com mão-de-ferro os gastos. as glosas são constantes e as saídas poucas. Uma delas, o cheque-caução, é alvo de severas ações por parte dos órgãos fiscalizadores. Não está claro o que a glosa feita pela operadora tem de regra técnica, em muitos dos casos, e os prestadores acabam sendo a ponta que paga o pato, junto ao paciente. Também aqui a verticalização ocupa as discussões: é melhor ser uma operadora com hospital?
Pacientes (beneficiários): com a recente portabilidade dos planos de saúde, os beneficiários parecem ser a parte mais feliz do bolo. Não é. A própria portabilidade tem restrições que impedem acesso a uma massa maior. Mas sem dúvida o beneficiário é o grande alvo de preocupações da ANS. Ainda assim, como consumidor, se sente cada vez mais injustiçado: ora por causa da exigência de autorização, ora por causa de auditoria prévia, ora por causa da recusa de atendimento, mesmo que por condições contratuais. A verdade é que o beneficiário ainda tem a mentalidade de paciente. Ele mesmo se entope de gordura de picanha, que se junta ao seu sedentarismo e sua obesidade, e procura os hospitais somente quando seus hábitos o condenam. Sem se preocupar com prevenção, não deixa mesmo que outros o façam (operadoras agora propõe estas medidas, principalmente por causa das política de qualidade da ANS. Umas poucas para refrear a sinistralidade). O paciente/beneficiário é o elo da cadeia com mais poder de garantir qualidade de vida, em vez de exigir qualidade de atendimento. Mas não o faz.
SUS: parte passiva da ação. Espera receber das operadoras uma parte da receita quando atende seus beneficiários. As operadoras argumentam: mas o dever da saúde não é do Estado, assim definida pela Constituição? Apesar da discussão, algumas operadoras pagam o que devem, assim entendidos aqueles atendimentos que se encaixam na regra de cobrança.
Com poucos tipos de players, mas uma quantidade enorme de atores e problemas, a grande discussão é como fazer com que esse sistema tenha estabilidade? As respostas não podem tardar.
Mas uma coisa é certa: todas as respostas passam por tecnologias de informação e comunicação.