Vivemos um paradigma na saúde (tanto pública como suplementar) já há muito estabelecido: nossa medicina é assistencial curativa. Ou seja: tratamos de pessoas doentes, visando curá-las.
Nobre objetivo, mas é “matar a vaca para matar o carrapato”.
Num país em que saúde não havia, como testemunha Mário de Andrade, na voz de Macunaíma (“Muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são”), era preciso iniciar por algum lugar. Tratar a pessoa adoecida era a solução mais adequada, pois a saúde era só urgências e emergências.
Premidos por contratos abusivos e preços escorchantes, consumidores se fizeram ouvir pela Lei 9656. Que estabeleceu as regra mínimas do setor, e foi um enorme avanço em termos de assistência médica. Por outro lado, o paradigma ainda se manteve na medicina curativa.
Debelada a crise da situação caótica (não que o caos tenha sido ele próprio debelado: mas diminuiu, temos de reconhecer), o mercado se defronta com o preço do paradigma: a assistência médica curativa custa caro, muito caro, e não há sistema, por melhor que seja, que conviva eterna e exclusivamente com esse modelo.
Assim, quando tratamos dos problemas atuais da saúde suplementar, ainda caímos nesse paradigma, pois dele ainda não nos livramos. O problema na demora em consultas e internações (procedimentos em geral) é somente um sintoma dessa armadilha paradigmática. É sconsequência, não causa.
A saúde suplementar no Brasil caminha, ora trôpega, ora célere, em direção à medicina preventiva em lugar da curativa. Manter a saúde do indivíduo já está se transformando no novo paradigma, sendo a medicina curativa, neste cenário, coadjuvante daquilo que representa a vicissitude da vida. Ora seremos acometidos por doenças, isso é um fato. Mas podemos evitar a grande maioria delas, este é outro (grande) fato.
Para chegar nesse novo ponto, temos de manter controladas nossos hábitos e riscos. A medicina curativa, devidamente direcionada, pode ser mola propulsora da conscientização e educação individual e coletiva. Até que chegará o dia em que o normal será a consulta de check-up, de orientação, em vez daquela orientada a queixas sobre saúde, quando a doença já se manifestou.
Três fatores se destacam na importância dessa transformação: educação, controle e adesão.
A educação pressupõe que haja maciça oferta de informação aos indivíduos, que poderão utilizá-las em benefício próprio.
O controle,tecnicamente definido e estabelecido, é o conjunto de medidas que precisa adotar cada indivíduo para se certificar de que sua saúde está em dia, com os riscos controlados, ou para que haja detecção precoce de doenças.
E a adesão é a iniciativa individual de receber a informação oferecida e transformá-la em hábito saudável, concretizando a ação preventiva.
Os players dessa transformação já são sobejamente conhecidos, mas é preciso destacar dois: o indivíduo, sem o qual o problema (e a solução) não se concretiza. E a Agência Nacional de Saúde (ANS), hoje a agência mais ativa e efetiva do país, em que pese todas as reclamações contra si (é uma das atividades sociais mais complexas, mas a ANS tem se desincumbido dela de forma mais que satisfatória ).
Assim, se tratamos dos problemas ainda pertencentes ao paradigma já ultrapassado da saúde, é porque motivo há: ultrapassado ou não, ele ainda é a realidade predominante. Infelizmente.
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