24 setembro 2011

Prevenção de riscos e doenças – Dificuldades das operadoras

É consenso que a prevenção de riscos e doenças é medida vital para a saúde suplementar. Mas é notório que as operadoras de planos de saúde (OPS), à exceção das autogestões, são as que mais estão engajadas no processo de prevenir riscos e doenças. Isso porque as autogestões (a maioria) encaram a saúde de seus beneficiários como benefício, não necessariamente um custo. Ademais, há uma certa estabilidade na permanência desses beneficiários na autogestão.

O mesmo não ocorre nas operadoras comerciais. Ouvi de um superintendente de uma grande operadora que sua massa de beneficiários praticamente se renovava a cada três anos. Em seu raciocínio, qualquer investimento em prevenção redundaria em evitar o sistro da próxima operadora. Sem investimentos (ou despesas), portanto.

O que se faz atualmente

Há uma grande discussão, nas OPS, do que se fazer a título de prevenção. E o que se faz, de fato, é o gerenciamento dos crônicos já identificados, normalmente selecionados pelo critério do custo assistencial. Óbvio que se evitam despesas com essa abordagem, assim como é óbvio que a ação implica em evitar complicações do estado de saúde do beneficiário, mas dificilmente evita-se  a doença. Há uma quimera, que faz gestores acreditarem que o ganho obtido com essa abordagem financiará das outras ações necessárias. Ainda não vi casos de uma evolução nesse sentido.

Outra abordagem é a gestão de casos, em que os beneficiários que, por sua condição, demandam muitos recursos médico-hospitalares são objeto de um projeto de cuidado específico. Também aqui os ganhos são significativos, mas a população envolvida é, normalmente, pequena. Evitam-se grandes despesas para uma porção mínima de pessoas, o que faz com que a economia seja insiginificante no total da massa.

A ANS e a prevenção

A ANS tem atuado no sentido de promover a prevenção como foco, não somente medica acessória de um mercado sem grandes alternativas. O IDSS, a forma de contabilização, o programa de envelhecimento ativo, tudo é sinal de que o caminho está definido. Falta, entretando, o empurrão que fará com que as medidas sejam realmente implementadas.

As operadoras ainda estão tentando se ajustar a uma época pós Lei 9656. Embora já tenha mais de dez anos, a lei engessou a capacidade de gerar receitas das operadoras, num mercado altamente competitivo cujos preços são referências falsas.

A ANS pode dar vários passos à frente. Estranhamente, está preocupada com a publicação de mapas localizadores dos prestadores, com sua óbvias implicações na sinistralidade das OPS e na qualidade de vida dos beneficiários…

Os beneficiários e a cultura da prevenção

Ou melhor, a falta de cultura…

Em um momento, pode comer ovo com gema. No outro, não pode, pois pode fazer mal… O bom é o exercício físico, Não, basta a atividade física…

Já não é hábito fazer prevenção de qualquer coisa no Brasil. De saúde, então, é muito mais difícil. O cidadão vai ao médico em último caso, passando pela farmácia e pelo guia espiritual antes. E acha que é vontade divina quando o câncer apresenta matástase.

É preciso mexer com hábitos poderoosamente arraigados: alimentação e sedentarismo. A abordagem é a mesma dos anos 70: aterroriza-se o indivíduo, criando o medo, para que ele mude de hábitos. Aliás, como no caso do tabagismo, é só mostrar um pulmão tomado pelo câncer para criar consciência sobre o problema…

As ações relacionadas a prevenção devem ser abrangentes, sistemáticas e têm de apresentar o poder de gerar convencimento e adesão. Se os discursos forem aleatórios, como nas campanhas de muitas SIPATs, sem contâcnia de propósitos e sem planejamento de edição, a mensagem vira uma pregação no deserto. De outro lado, o médico que recomenda perda de peso e exercício, ele próprio com sobrepeso e flagrantemente sedentário não gera credibilidade suficiente para gerar convenvimento.

O indivíduo que procura o médico somente em extrema necessidade não desenvolverá cultura preventiva, ao menos em curto espaço de tempo. E no seu almoço continua a ser servir das frituras e embutidos, abusando do sal e ameaçando mudar de restaurante se assim não for naquele.

Distância fática

É um número mágico nas OPS a quantidade de quatro exames por beneficiário por ano. É um indicador de utilização. Quam está acima, usa muito. Quem está abaixo, usa pouco e pode vir a ser um problrma porque não se cuida. Essa é a análise baseada na medicina assistencial.

Se fosse preventiv a essa análise? De quantas consultas precisaríamos para ter o indivíudo saudável?

Não sei. Não tenho esse número, e não encontrei uma resposta ao menos defensável. Sei, entretanto, que talvez quatro consultas ou oito, ou doze, mas realizadas com enfoque preventivo, poderiam representar um excelente resultado para beneficiário e OPS, desde que fossem atendidos alguns critérios. Mas sei também que somente o médico não garante saúde, embora seja ele o maior reabilitador e curaador. Saúde se faz com um grupo de especialidades, não necessáriamente médicas. Uma vez oferecida essa abordagem ao indivíduo, devidamente sistematizada e baseada em protocolos, aí sim iniciar-se-ia a mudança comportamental de que precisamos.

A adesão do beneficiário

O beneficiário, compreendendo o processo (sistematizado e embasado em protocolos) de cuidar da sua saúde (alimentação, atividade física, investigação precoce, controle de indicadores), seria inexoravelmente envolvido por uma nuvem de ações que não lhe permitiriam outra ação senão manter-se saudável. Mas não pelo medo de morrer, mas pela vontade de viver e viver bem, com qualidade de vida. Seria o adesão do indivíduo a uma vida mais saudável, sem retratos em maços de cigarros e sem pitos de médicos e parentes.

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