20 setembro 2010

Prevenção de doenças: o aspecto cultural

1201945_stop_sign[1] Quando viajamos de automóvel, estamos sujeitos a sermos parados por um guarda que, em função das condições de rodagem de nosso automóvel, pode tomar medidas punitivas, como multa ou apreensão do veículo. E, ainda, uma bronca. Baseado em itens obrigatórios, normalmente de segurança ou estado geral do veículo, essa fiscalização, prevista em lei, é aceita pela maioria dos cidadãos. Tudo em nome da segurança do trânsito.

Em relação a nós mesmos, entretanto, existe uma noção exacerbada da liberdade individual. Temos, ou pelo acreditamos ter, a liberdade de nos suicidar, exclusivamente de forma lenta. A noção do suicídio com um tiro a cabeça é combatida veementemente, mas a ingestão incorreta de alimentos não. A diferença é uma só: a velocidade do suicídio.

Os obesos sempre sem refugiam nos “padrões de beleza” dominantes. E, se alguém tem alguma restrição contra os sobre-pesados, há sempre o preconceito. mas ninguém tem o direito de interferir em suas vidas e alertá-los contra os males dessa condição. Quando alguém tem e manifesta esse direito, a má vontade do receptor é evidente.

Ir ao médico por sentir algum mal, em que pese o estado pré-infernal de nossa saúde suplementar, é sempre uma mostra de fraqueza.

- Estou bem.

- Já passa.

- Amanhã eu vou.

- Para quê? Receber notícia ruim?

São os comportamentos decorrentes de uma cultura em que a própria beleza pode advir de doenças, como no caso das anoréxicas e bulímicas. Ficar doente para ficar bonito, interessante. Ficar saudável para se manter vivo, uma utopia, ora que besteira.

O fato é que a sociedade, de uma forma geral, não está ainda preocupada com o fato o bastante para gerar mudanças estruturais na abordagem da saúde suplementar e dos indivíduos a elas ligados. A prevenção, desde a mais tenra idade, deveria ser um dos aspectos mais importantes de nossas vidas. Enquanto crianças tomam refrigerantes aos montes, poucos pais dão o exemplo da boa alimentação e bons hábitos, esse é o problema. Os exemplos que recebemos são de uma geração quem tem contratos com empresas para tratar deles na doença, mas poucos têm políticas de se manter saudável.

Com o avançar da idade, todos sentem, com maior ou menor peso, a degradação das condições de saúde. Infelizmente, aumentam também as desculpas por não se cuidar. Ouvi uma pessoa dizer que comeu frituras a vida inteira, e ainda estava viva e bem. Obesa, diabética e hipertensa, mas vivendo na ilusão de estar bem.

Esse suicídio, lento e sistemático, resultado de aspectos culturais, é ofensivo à pessoa, que enfrenta uma degradação mais acelerada do que o normal em sua qualidade de vida, precisa ser detida. A cultura da saúde, com bons hábitos de vida, atividades físicas, alimentação consciente e saudável e acompanhamento sistemático das condições de saúde precisa constitui o novo paradigma. Como é matéria de adesão, o indivíduo, e somente ele, tem condições de decidir sobre os rumos da própria saúde, e da própria vida.

Esse paradigma pode ter a capacidade de concretizar a famosa frase de Fernando Sabino sobre a vida:

"Viver é um belo vício, mas faz tanto mal à saúde quanto fumar.Viver também é morrer um pouco.Faz cair os cabelos e os dentes. Provoca rugas na pele, flacidez nos músculos e artrite nos ossos.Enfraquece a cabeça, combale o organismo e ataca o coração. É o próprio suicídio dos que não têm pressa"

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