24 novembro 2009

O componente sócio cultural na prevenção de doenças

O INCA (Instituto Nacional do Câncer) publicou pesquisa apontando que 40% das mortes por câncer poderiam ser evitadas por detecção precoce. O número é significativo, e aqueles que já perderam alguém para a doença sabem como essa informação é frustrante.

Este espaço se dedica, muitas vezes, a fazer o alerta sobre a importância da ação positiva de cada um na prevenção às doenças. Mas é preciso fazer um mea culpa e dizer que não é tão fácil. Nossa vida profissional e nossa cultura, na maior parte das vezes, não contribui em nada.

Mulheres se cuidam mais. Homens são mais arredios. Se depender de sua própria iniciativa, entretanto, a maioria da população, qualquer que seja o gênero, só procura o médico ao sentir alguma coisa. mas aí já pode ser tarde. O ideal seria fazer os check-ups de forma rotineira, com médico de confiança, que direcione, segundo idade e sexo, às investigações pertinentes.

A primeira barreira está no aspecto profissional. Os exames médicos demandam tempo, e normalmente são bem maiores que o necessário para sua execução, pois a cultura médica (e de atendimento especializado) no Brasil é de atraso. E os atrasos se refletem diretamente na disponibilidade do “paciente” na empresa. Pessoas que têm metas a cumprir ou um dia-a-dia pesado não se afastam do seu serviço a não ser em casos de extrema necessidade (em termos de saúde). Assim, com tarefas muitas, a prevenção não desfruta de prioridade.

As empresas também não se empenham muito em estimular o autocuidado e a investigação precoce de doenças de seus funcionários. Essa omissão é a segunda barreira. Como pagam planos de saúde, as empresas têm a falsa noção de que a preocupação acabou. Doentes, seus funcionários serão atendidos. Restaurados, voltam ao trabalho. Simples, não?

Não. É simplório. O funcionário com qualquer doença já representa custos adicionais. Alguns invisíveis, como no caso do presenteísmo. Um neologismo não tão novo, nem inusual, caracteriza aquele funcionário que, portador de algum mal, leve ou não, vai trabalhar e tem seu desempenho afetado por essa doença. Está presente, mas não a plena capacidade. O absenteísmo é outro custo, visível. Quando estimamos a necessidade de pessoal, sempre acrescentamos 10% aos cálculos de decorrentes de cronoanálise por contas das férias (representam absenteísmo legal). Se há funcionários em licença saúde, eles igualmente causam impacto na produção, sendo necessária reposição (mais contratados ou mais horas de trabalho). Custo, portanto.

Não acaba aí. A assistência médica prestada ao doente acaba retornando à empresa, como reajuste no plano de saúde. Portanto, o funcionário com doença manifestada custa muito, e a prevenção ainda não está sendo encarada por esse aspecto.

Uma característica adicional agrava o problema: nesta era em que, no Brasil, as empresas diminuem custos contratando pessoas físicas como se jurídicas fossem, o pagamento dos dias parados não onera a empresa, mas o funcionário-empresa afastado. Como não há consequências econômicas, o tomador de serviços não tem estímulo – ou necessidade -  de enfrentar o problema (pois entende não ser seu).

O flagelo da obesidade, do tabagismo, do sedentarismo e do alcoolismo ainda impera. É necessária uma ação mais abrangente no Brasil, para que esses componentes comportamentais sejam enfrentados. E essa ação só será efetiva se, empreendida e orquestrada pelo(s) governo(s), encontrar eco nas entidades privadas. Se a ação depender dos indivíduos, massacrados pela realidade sócio-econômica, o Brasil continuará sendo uma nação de doentes crônicos, chorando por seus mortos prematuros, e enfrentando os problemas evitáveis de saúde frágeis.

Quarenta por cento das mortes seriam evitadas, segundo o INCA. QUARENTA. Não há como achar pouco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário