Atividades preventivas já estão no discurso de operadoras de planos de saúde, já que o setor está chegando ao limite de sua capacidade de aprimorar cobrança (geração de receita) e pagamentos (contenção de despesas assistenciais – vale dizer: glosas).
Inúmeros relatórios de entidades/autoridades no assunto saúde apontam na mesma direção: três fatores que podem ajudar na prevenção de doenças são a alimentação saudável, a atividade física e a eliminação do tabagismo. Hábitos pessoais, portanto. Questões vinculadas à hereditariedade e meio (ambiente) seriam minimizadas com a adoção de vida saudável baseada nos três fatores citados. Sabedores disso, porque a abordagem de OPS (operadoras de planos de saúde) não se focam mais nesses aspectos?
Há um foco, mas normalmente restrito a informativos e campanhas. Quase nunca é uma atividade corriqueira de educar e acompanhar. As barreiras são inúmeras. Passam pela dispersão dos beneficiários, o que dificulta o acompanhamento ou inviabiliza financeiramente, e culminam na “tragicomicidade” econômica: porque uma OPS vai se ocupar de “tratar” pessoas saudáveis se mal há verba para tratar as doentes? Nem o argumento de que o investimento (como define a ANS o gasto em prevenção), no futuro, redundará em economia, pois gestores de OPS, à vista do índice de rotatividade de beneficiários, prefere não evitar a sinistralidade da próxima…
Como estamos falando de hábitos, o acompanhamento é, necessariamente, obrigatório. Marcação cerrada, com vistas a influenciar não o comportamento de amanhã, mas o atual, que é o que se como, quanto, níveis de atividade física e a eliminação do vício do cigarro. As operadoras não estão preparadas para isso, pois sua história as dirigiu para o tratamento curativo.
Mas, pior que o despreparo das operadoras, é a falta de adesão da imensa maioria dos beneficiários. Qualquer circulação por restaurantes mostrará o quanto eles se preocupam com o que (e quanto) vai ao prato. Atividade física segue na mesma linha, enquanto o tabagismo é eliminado aos poucos (mas de forma crescente, reconheçamos).
As empresas contratantes de assistência médica não fazem questão de que a prevenção seja incluída no seu contrato, e mesmo que fizessem, não saberiam como concretizar essa ação.
A ANS, que vem se dedicando ao tema, com várias propostas importantes, está num quase impasse: percebe a importância da prevenção, mas não tem como implementar sua execução, até por falta de modelo para tal (processual e financeiro).
Enquanto isso, aqueles que se alimentam bem, fazem sua atividade física e não fumam, pagam, pelo princípio do mutualismo, por aqueles que não se cuidam e não se animam a fazê-lo.
É necessário que se estabeleçam critérios que possibilitem retornos concretos àqueles que aderem a programas preventivos. Hoje a normatização impede que sejam oferecidos descontos, por exemplo, pelo atingimento de metas. É inegável que uma pessoa que atinja um IMC normal tenha menos riscos que aqueles com obesidade mórbida. Mas há que se entender o medo da ANS: num meio em que cirurgias são negadas por questões de fluxo de caixa, o que se pode esperar em um programa de benefícios que dependa de metas?
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